segunda-feira, 17 de março de 2008

Alquimia



Olho para o céu
das minhas convicções

onde Tuas mãos desenham
diáfanas analogias

que mudam de forma
a cada instante

E eu que antes
tudo sabia

agora

sou neófito
do silencio

e sofro a Tua alquimia.

sábado, 8 de março de 2008

Chá verde com uma pitada de reflexão...


Prazer e dor são apenas aspectos da mente. A nossa natureza essencial é a felicidade. Mas nós esquecemos o Eu e imaginamos que o corpo ou a mente são o Eu. Essa identidade equivocada é que dá ensejo ao sofrimento. O que fazer? Esta tendência mental é muito antiga e prosseguiu ao longo de inúmeros nascimentos anteriores. Consequentemente fortaleceu-se. Precisa acabar antes que a natureza essencial, a felicidade, reivindique seus direitos. Ramana Maharishi

Semana passada, antes de dormir, tomava chá com minha filha de 15 anos, e conversávamos sobre as artimanhas utilizadas pelo ego para não ceder espaço ao Eu superior em nossas vidas.

Em dado momento, entre um gole e outro de chá verde, ela diz: - Pai, lembra o ano passado quando eu fiz quinze anos e fui para Disney? Pois é... Você e a mamãe se surpreenderam por que eu gastei pouco por lá e voltei com boa parte do dinheiro que levei... Minhas colegas gastaram tudo que levaram em compras, mas eu achei muita coisa inútil por lá e então resolvi comprar só o essencial... Será que existe algo de errado comigo? Na minha idade eu não deveria ser mais consumista? Sinto-me às vezes um peixe fora d’água no meio de minhas amigas...

Olhei para ela, tomei mais um gole de chá verde e sorri afetuosamente.... Segue abaixo um resumo das nossas reflexões naquela noite.

O ego se mantém ativo no governo de nossas vidas graças a várias crenças ilusórias. No diálogo acima, pode-se identificar uma dessas crenças, talvez a principal delas, que domina de forma absoluta a sociedade contemporânea: “Mais é melhor”.

A incessante busca do ser humano por mais transformou-se na doença do século, contaminando o mundo de conflitos incessantes, pois como pode haver paz nesse mais-é-melhor?

Analisemos a lógica ilusória da mente egóica que é o alicerce da vida do homem contemporâneo: - Para estarmos satisfeitos devemos estar ocupados, buscando ganhar mais dinheiro do que ganhamos atualmente, e para isso precisamos ser promovidos a fim de alcançarmos sucesso na vida e assim provamos nosso valor.

Viver a vida no círculo vicioso do mais-é-melhor, nos prende exclusivamente ao domínio da dimensão física, excluindo o Eu superior da nossa vida cotidiana, pois a energia interior é inteiramente canalizada para acumulação, aquisição, busca de recompensa, troféus, aplausos, reconhecimento e dinheiro.

E o pior de tudo isso é que esse jogo de escravidão engendrado pela Matrix ilusória do ego nos é ensinado desde muito cedo. A partir da escola aprendemos que somente o primeiro lugar importa, que é preciso sempre ir atrás de graus mais elevados, diplomas adicionais e títulos exteriores que, se de um lado reconhecem o ego, de outro obscurecem o Ser.

E essa loucura do mais-é-melhor é tão habilmente vendida pela mente egóica, que aqueles que não se adaptam a ela começam a se achar problemáticos, com sentimento de culpa, vergonha e até mesmo remorso, pensando que possuem algum desvio psicológico ou mental por não viverem lutando por mais.

No bojo do mais-é-melhor, existe a identificação do ego com o objeto do seu desejo. Essa associação com objetos e pessoas é construída na própria estrutura da mente egóica e leva ao desenvolvimento de sentimentos perniciosos e ilusórios tais como a posse e o apego.

É isso que faz uma criança chorar e sofrer quando perde ou lhe tiram um brinquedo. Não importa se é uma criança rica ou pobre, nem tampouco se é um brinquedo caro ou apenas um pedaço de madeira utilizado à guiza de um cavalo de pau: o sofrimento pela perda é o mesmo. E a causa dessa dor está na identificação do ego com o brinquedo, e está oculta na palavra “meu”.

E quando crescemos essa compulsão inconsciente pela posse faz com que nos identifiquemos com tudo ao nosso redor. Se na infância era o meu brinquedo, na fase adulta é o meu carro, meu corpo, meu apartamento, minha casa de campo, minhas roupas, meu cargo na empresa, meus amigos, meus filhos, minha esposa e meu marido.

Tentamos nos satisfazer e nos encontrar nas coisas exteriores, mas acabamos nos perdendo nelas. Esta é a sina do ego: viver sempre insatisfeito.

Para fugirmos desse círculo conflituoso e cheio de sofrimento chamado mais-é-melhor e atingirmos a paz que flui da nossa natureza última – a felicidade – precisamos abandonar todas essas crenças arquitetadas pelo ego e transmitidas de geração para geração, como se fossem premissas para se alcançar o ilusório sucesso na vida.

Quando nos esvaziarmos dessas ilusões, nosso espaço interior será preenchido pela plenitude do Eu Superior, onde não existem identificações e nem tampouco desejos pois ali é a morada da felicidade e nela todos os desejos estão satisfeitos.
Referências: