segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Unidade


No dinamismo do firmamento,
as galáxias em espirais ascendentes
exaltam infinitas possibilidades.

Na estática mesa do apartamento,
as espirais do aroma de chá quente
exalam a finita relatividade.

E em tudo a mesma Presença...

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O que não somos



Vivemos fragmentados. Pulverizados entre passado, presente e futuro, não conseguimos perceber a unidade que permeia a diversidade que nos rodeia, pois a separatividade, característica do mundo das formas, rouba do homem a plenitude do Ser.

Mesmo assim, seguimos em frente, dia após dia, mês após mês, ano após ano, vida após vida, sem encontrar o sentido real da existência, deixando a carruagem da mente ser dominada e levada de roldão pelos cavalos dos sentidos.

Atrás do néctar de um desejo satisfeito surge sempre outro a ser buscado. A ânsia pelo prazer e o medo da dor transformaram-nos em abelhas famintas pelo mel da felicidade. Iludidos, pousamos de flor em flor no jardim dos desejos, mas, ao término de cada jornada diária, continuamos insatisfeitos.

Tudo isso porque temos experimentado, diariamente, a mais poderosa droga ilusória de que se tem notícia: a viagem exterior, para fora de nós.

Agora, é momento de viajarmos para dentro de nós. Encontrar a resposta à pergunta Quem somos nós? – roteiro da viagem interior prescrita por todos os sábios ao longo da história da humanidade – é o único antídoto para a ilusão do ego que aprisiona o homem nessa Matrix.

Kahlil Gibran, inspirado poeta libanês, autor de “O Profeta” disse certa vez que a única pergunta que o obrigava a ficar calado era: - Quem é você? O autor, escritor e sábio, já havia compreendido que qualquer resposta verbal a essa pergunta era um esforço inútil, pois a palavra – expressão concreta do pensamento – pertence ao mundo transitório e impermanente das formas, enquanto nós, seres divinos, fazemos parte do eterno.

Como pode o efêmero explicar o eterno? De que maneira a chama do intelecto, cujo combustível é o mundo relativo das formas, pode iluminar a compreensão do absoluto, que não tem forma?

Mas afinal: Quem somos nós? O grande sábio indiano Ramana Maharishi, diz-nos que no estágio inicial da Busca, é mais fácil respondermos a essa pergunta por meio da reflexão sobre aquilo que não somos.

Compreender o que não somos é o primeiro passo para a libertação das amarras do ego, gerador de toda a Matrix na qual nos achamos enredados.

Não somos um nome. Um nome é apenas um condicionamento que a Matrix nos impõe, levando-nos à ilusória identificação com um corpo, de forma a diferenciar-nos dos demais corpos (pessoas) que nos rodeiam.

Não somos corpos. O corpo é apenas um instrumento para que o Ser atue na dimensão material. Portanto, características físicas como postura, altura, cor da pele, ausência ou presença de cabelos, e peso, que fazem milhões de pessoas no mundo inteiro sofrerem, alegrarem-se e até se envolverem em conflitos étnicos, não passam de mera ilusão.

Não somos a mente. A mente é somente um corpo sutil, e como todo corpo tem início, meio e fim, pertencendo à dimensão da transitoriedade, e em sendo efêmera não pode ser confundida com o Ser. O corpo mental é um instrumento do ego, uma espécie de CPU que armazena todo conhecimento sobre o mundo exterior conquistado ao longo das experiências de inúmeras existências. Conectada aos scaners dos sentidos, a mente funciona à guiza de um filtro, construindo o mundo exterior a partir das percepções recebidas, e interpretando-o de acordo com os conhecimentos acumulados no HD do inconsciente. Dessa forma, o conhecimento da verdade – cujo atributo maior é a eternidade – jamais será obtido a partir da mente, pois suas idéias, teorizações e pensamentos pertencem ao mundo impermanente da formas. Segundo os sábios, somente quando o riacho da mente for absorvido pelo oceano do Ser – essência divina – é que conseguiremos entrar de posse da verdade.

Não somos uma profissão. No cotidiano das atividades diárias, é comum nos confundirmos e sermos confundidos com o papel desempenhado em nossas profissões. Porém, em essência não somos engenheiros, escritores, médicos, administradores, etc. Essas identidades pertecem ao domínio do ego e não do Ser. Precisamos desenvolver a mesma percepção de um ator teatral, que fora do palco tem consciência de que não é o personagem interpretado. Em realidade, cada um de nós interpreta um papel na peça da vida, espetáculo em cartaz neste palco ilusório chamado mundo tridimensional. O que precisamos é perceber que absolutamente não somos esse personagem.

Sobre o que não somos o sábio Ramana Maharishi nos diz:

“O corpo denso que é composto dos sete humores (dhatus), não sou Eu; os cinco sentidos da cognição, a saber: o sentido da audição, toque, visão e olfato, que apreendem os seus respectivos objetos, a saber: sons, toque, cor, sabor e odor, não sou Eu; os cinco sopros vitais, prana, etc. que desempenham respectivamente as cinco funções da inspiração, etc., não sou Eu; mesmo a mente que pensa, não sou Eu; tampouco a ignorância, favorecida somente com as impressões residuais dos objetos, e onde não há objetos ou funcionalidades, também não sou Eu.”

“Depois de negar tudo o que foi mencionado acima como "não isto", "não isto", somente aquela consciência que resta, somente aquilo sou Eu.”


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Devoção


Minhas dúvidas
seculares

estendem-se como minaretes
pontiagudos

ávidos por tocarem
a abóbada

da Tua certeza.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Um conto zen

Um professor universitário visitou Nan-in, o mestre zen, para perguntar sobre o zen. Contudo, em vez de ouvir o mestre, o professor se limitou a falar sobre as próprias idéias.
Depois de ouvi-lo por um tempo, Nan-in serviu chá. Encheu a xícara do visitante e continuou a servir o chá. O líquido transbordou, encheu o pires, caiu nas calças do homem e no chão.
– Não está vendo que a xícara encheu? – explode o professor. – Não cabe mais nada!
– Isso mesmo. – responde calmamente Nan-in. – Tal como essa xícara, você está cheio de suas próprias idéias e opiniões. Como poderei mostrar-lhe o zen se você não esvaziar sua xícara primeiro?

Vivemos assim, como o professor universitário do conto zen, cheios de pensamenetos, teorias, idéias e explicações sobre a vida, que vão se acumulando na mente ao longo da existência, e passam a funcionar como uma espécie de filtro, por meio do qual interpretamos o mundo a nossa volta.

Esta é a ilusória Matrix da qual lutamos para nos libertar: - a mente-ego. Simbolizada no conto zen pela xícara, a mente, no livro “A Voz do Silêncio”, é denominada por H.P. Blavatsky como a grande assassina do real.

A mente constrói o mundo exterior a partir das impressões recebidas pelos sentidos físicos (paladar, olfato, visão, audição e tato), fato este que tanto a biologia quanto a medicina vêm demonstrando a cada dia.

Portanto, tudo aquilo que está fora de nós e que acreditamos ser real, não passa de uma projeção virtual criada pela mente-ego, com base nos conhecimentos e condicionamentos acumulados aos longo de várias existências.

Mas, afinal de contas, o que é real? Segundo os sábios, o maior atributo da realidade é a eternidade, a permanência. Tudo aquilo que tenha início e fim é impermanente, transitório, efêmero e portanto irreal.

Se refletirmos sobre o universo, podemos então dizer que a eternidade é atributo exclusivamente do Ser, ou Eu Superior ou ainda Espírito. Assim, a jornada para compreensão do Ser é a única busca justificável.

Conhecer a si mesmo é o único processo capaz de esvaziar a xícara da mente-ego, libertando-nos dessa Matrix ilusória na qual nos achamos enredados.

Nos próximos posts, vamos conhecer um pouco mais sobre as nuances da jornada do auto-conhecimento, por meio da reflexão sobre os ensinamentos de alguns seres que estiveram entre nós e que lograram atingir a permanência no Ser.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Busca continua...

Prezados buscadores,

Estamos de volta... Após quase 06 meses de silêncio, retornamos com as postagens do blog "A Busca", agora em novo endereço.

Com uma roupagem mais simples, este blog pretende refletir sobre a necessidade de auto-investigação dos que não se contentam mais com o atual modus vivendis da sociedade, que à guiza de uma Matrix ilusória exalta o ego e despreza o Ser, gerando sofrimento e infelicidade no seio da humanidade.

Quem somos nós? Esta é a pergunta que há milênios não quer calar... Aqueles que conquistaram a resposta tornaram-se sábios, seres iluminados.

Esses mesmos Sábios afirmam que somos perfeição absoluta. Tudo de que precisamos está dentro de nós. O exterior e apenas ilusão, projeção imperfeita dos incontáveis universos que trazemos no âmago do Ser.

A Busca nada mais é do que o esforço diário de cada buscador em tomar consciência da sua própria perfeição.

Sejam todos bem vindos.

Em tempo: alguns leitores já perceberam que não assino mais os posts com nome próprio... Passei a utilizar o pseudônimo Who que acredito ser bastante impessoal... Não há nada de estranho ou especial nisso... É apenas parte de uma estratégia que tracei ao longo dos últimos meses no intuito de enfraquecer o domínio e o poderio do ego em minha vida.