à beira da estrada,
vivia mordiscando dias.
Os pés,
antigas raízes,
ainda sustentavam
a finura do caule.
O olhar presente
afagava a espessura das palavras,
esticava a sombra da compreensão,
sorvia a plenitude do vazio.
Aprendera o idioma das águas, e
com o rio, conversava fluindo,
num misto de corredeira
e moinho.
Sabia soletrar
o sábio tamborilar da chuva no telheiro,
e na cachoeira do silêncio,
doía-lhe o som das lágrimas
derramadas pelo mundo inteiro.
Do chão das horas,
as mãos apanhavam
formigueiros de idéias, e
construíam fornos de barro
para assar a rotina diária.
De tanto beber orvalho da manhã
em folhas sedentas de sol,
todas as vezes que chorava
vertia estrelas.
Conhecia o sabor amargo
da mais valia dos homens, e
por isso, embriagava-se
com a doçura da sem valia.
Para ele,
0 que valia mesmo
era sentir
a pena da asa de um pintassilgo,
fazendo escarcéu de alegria
no ninho dos dedos.
A natureza
lhe roubara a lucidez infernal
da urbanidade.
Em troca,
ganhara a loucura divina,
para alguns miragem,
de ser parte integrante
da paisagem,
de ser apenas
um tecido atento,
feito com a percepção
de cada momento,
eternidade estendida
no varal do instante
que passa,
tremulando livremente,
ao sabor do ar da Graça.
© Who
3 comentários:
quem é o autor?
O autor é o próprio Who, idealizador do blog.
Parabéns,muito bom.
Postar um comentário